A Graciosa – a Ilha Branca – é a segunda ilha mais pequena dos Açores, mas foi uma das maiores surpresas que tivemos nos últimos tempos. Não sabíamos bem o que lá existia, por isso também não tínhamos quaisquer expectativas – e sabe tão bem quando somos assim surpreendidos!
Na verdade, visitar a Graciosa não foi uma escolha óbvia. Tínhamos pouco mais de uma semana para dedicar aos Açores, e como o nosso principal objetivo era conhecer bem a ilha Terceira, estivemos a pesquisar como é que podíamos fazer uma escapadinha por alguma das outras ilhas do grupo Central.
Concluímos que a melhor opção, para aproveitar melhor o tempo e ficar mais em conta, era ir passar o fim-de-semana à Graciosa. E ainda bem, porque valeu muito a pena. Venha daí descobrir connosco o que visitar nesta ilha açoriana.
Como ir para a ilha Graciosa
É possível viajar para a ilha Graciosa de duas formas: de avião ou de barco.
Nós escolhemos a opção mais económica: fomos de ferry a partir da ilha Terceira. A Graciosa era a primeira paragem, antes de o ferry seguir para S. Jorge, Pico e Faial, e foi por isso mesmo que a escolhemos. Achámos o preço e o tempo de viagem aceitáveis, e sempre ficava mais barato que ir de avião.
Comprámos os bilhetes de ferry, ida e volta, algumas semanas antes da nossa viagem, para garantir que tínhamos lugar. Os horários da empresa de transporte, a Atlântico Line, são um pouco limitados, pelo que a melhor solução que encontrámos foi ir para a Graciosa numa sexta-feira à tarde e regressar na segunda-feira seguinte também à tarde.
Durante as cerca de 3h40 de viagem entre a Terceira e a Graciosa deu tempo para conversar, dormir e comer, e ainda para apreciar a paisagem e tentar ver baleias e golfinhos. Mas a sorte não nos bafejou, não vimos nada para além das águas azuis do Atlântico. Disseram-nos que é mais frequente ver cetáceos no percurso que o ferry faz entre as ilhas do triângulo – S. Jorge, Pico e Faial. Fica para uma próxima.
Já o regresso à ilha Terceira para apanharmos o voo para o Porto acabou por se revelar um desafio maior do que esperávamos.
O céu enevoado e o vento forte que se fez sentir durante o fim-de-semana reservava-nos uma surpresa. Foi precisamente devido às condições meteorológicas desfavoráveis que o ferry que nos levaria na segunda-feira de volta à Terceira foi adiado – para o dia seguinte. Se esperássemos por esse ferry, íamos perder o voo de regresso ao Proto, o que não convinha, até porque daí a dois dias íamos para a Croácia e já tínhamos tudo reservado.
Mas o Ricardo, perito em arranjar soluções de viagem, encontrou um voo da Sata que ia na segunda-feira de manhãzinha para a Terceira. Ficámos sem a manhã de passeio que tínhamos planeado, mas pelo menos resolveu-se.
Só foi pena não nos lembrámos que podíamos ter contactado a Sata, a companhia aérea dos Açores, para não pagarmos este voo, já que era uma ligação entre ilhas para apanharmos outro voo dentro das mesmas 24 horas. Mas com toda a confusão do momento nem nos lembrámos disso na altura. E quando contactámos a Sata depois, disseram que já não nos podiam devolver o dinheiro. Aventuras de viajantes!
Como nos deslocámos pela ilha Graciosa
Chegámos à noite ao Porto da Praia da Graciosa, e um senhor simpático do rent-a-car esperava-nos com o carro que iríamos usar para percorrer toda a ilha neste fim-se-semana.
A primeira paragem, nessa noite, foi a Moniz House, onde ficámos confortavelmente alojados três noites, na maior localidade da ilha, à beira-mar plantada: Santa Cruz da Graciosa.
Apesar de haver muita coisa para ver e fazer na Graciosa, esta é uma ilha bastante pequena, pelo que se chega rapidamente a qualquer sítio – em 20 minutos ou menos conseguimos ir de qualquer ponto a outro, de carro. E a maior parte das estradas estão em bom estado, o que ajuda bastante.
Dia 1 | Da Praia à Caldeira da Graciosa
Depois de alguma pesquisa, percebemos que havia muita coisa que para conhecer na Graciosa, pelo que o nosso roteiro se tornou ambicioso, considerando que tínhamos apenas cerca de dois dias para visitar a ilha.
Praia de São Mateus
Depois de um passeio matinal à beira mar da vila de Santa Cruz da Graciosa, o nosso primeiro dia na ilha começou precisamente no sítio onde tínhamos desembarcado na noite anterior: na Praia de São Mateus, onde fica o Porto da Praia.
Fomos dar um passeio pela costa e aproveitámos para visitar o centro histórico e ver de perto alguns dos carismáticos moinhos de vento da Graciosa, felizmente preservados, que com a sua forma esguia e telhados pontiagudos nos deixaram encantados. Ainda pensámos dormir num moinho nestes dias, como o Boina do Vento, mas saía muito fora do nosso orçamento.
Como o próprio nome indica, na vila da Praia de São Mateus existe uma verdadeira praia, de areia (negra), o que não é comum no resto da ilha. Quando lá fomos, em finais de Setembro, estava frio, mas deve ser um sítio ótimo para banhos de sol em dias de calor.
Mas havia uma motivação secreta para irmos à Praia de São Mateus: é que na noite anterior tinham-nos dito que as melhores Queijadas da Graciosa eram do Vintage, um snack bar dali. E que se quiséssemos levar umas caixas de Queijadas fresquinhas antes de apanharmos o ferry na segunda-feira, devíamos ir lá encomendá-las.
Pois bem, foi a desculpa perfeita para começarmos a nossa aventura pela Graciosa provando o doce mais tradicional da ilha. Pedimos uma Queijada para cada um, sentámo-nos na esplanada, e foi paixão à primeira dentada. Caímos de amores por este pequeno doce em forma de estrela.
Depois de cada um comer a sua, levámos uma caixa de 6 para ir comendo nos dias seguintes. E acabámos por ir buscar no Domingo as caixas que queríamos levar para o Porto para oferecer como souvenir à família e amigos.
Baía do Filipe
Já com suficiente açúcar a correr no sangue, rumámos ao outro lado da ilha, até à aldeia de Beira Mar, onde encontrámos umas casas deliciosamente pitorescas e de onde se tem uma vista fantástica para a Baía do Filipe.
Pouco tínhamos ainda visto, mas já estávamos encantados com as paisagens costeiras da Graciosa, repletas de arribas em harmonia com as ondas do mar.
Perto desta zona, fomos almoçar a um dos restaurantes que mais nos recomendaram: o Estrela do Mar, na Baía da Folga.
Começámos por comer umas lapas grelhadas – grandes, suculentas, com alho e limão, ainda a ferver quando vieram para a mesa. Depois comemos peixe: Bicuda Frita e o famoso Molho à Pescador com Boca Negra, um dos pratos de peixe mais tradicionais da Graciosa.
Caldeira
Depois de almoçar, fomos conhecer uma das coisas que não podia falhar nesta viagem: a Caldeira da Graciosa, a cratera de um antigo – e enorme – vulcão.
Quais exploradores, fomos até ao centro da Caldeira e, depois de pagarmos os bilhetes, descemos até às profundezas da terra para conhecer a Furna do Enxofre. Esta enorme cavidade vulcânica começou a ser explorada no século XIX, numa altura em que se descia até lá abaixo por uma corda. Atualmente desce-se por uma escadaria que entretanto foi construída.
O teto em abóbada da Furna do Enxofre é enorme. E sob este teto, lá em baixo, espraia-se uma lagoa, escura e serena. Devido aos elevados níveis de gases perigosos, não foi possível aproximarmo-nos. Por isso ficámos apenas com uma perspetiva longínqua daquelas águas misteriosa.
Depois de explorarmos a gruta, foi tempo de regressar à superfície. Pegámos no carro e rumámos até ao topo da Caldeira. Estávamos a pensar fazer o percurso a pé, pelo lado de fora da cratera do vulcão – é fácil e demora cerca de 3 horas. Mas como tínhamos o tempo um pouco limitado acabámos por fazê-lo de carro, parando em vários miradouros. Daqui, tivemos vistas fantásticas, 360º, sobre toda a ilha, o mar e os ilhéus – por sinal muito fotogénicos.
Depois de darmos uma volta completa à Caldeira, fomos em busca da Furna da Maria Encantada. Aqui, encontrámos grutas muito interessantes e vários painéis informativos que nos ajudaram a perceber o percurso que a lava fez ao sair deste vulcão.
Antes de nos despedirmos, subimos a uma torre de vigia que existe nas proximidades da Furna da Maria Encantada para espreitar para dentro da Caldeira da Graciosa. Adorámos esta perspetiva, de um grande buraco revestido por floresta e vegetação verdejante.
Deixámos para uma próxima visita a Furna do Abel e Furna da Água, também localizadas nesta zona.
Dia 2 | Da Senhora da Ajuda à Praia do Barro Vermelho
Senhora da Ajuda
Começámos o nosso segundo dia de passeio pela Graciosa subindo ao monte da Senhora da Ajuda, que havíamos visto na noite anterior a partir da praça principal de Santa Cruz da Graciosa – tínhamos vislumbrado três curiosas ermidas iluminadas, que mais pareciam suspensas lá no alto.
De dia, e já no topo do monte, começámos por conhecer a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, que acabou por ser a nossa favorita, pelo seu aspeto robusto e carismático – resultante da arquitetura religiosa fortificada que a caracteriza -, com o branco das paredes a contrastar com o negro da pedra. Junto a esta ermida também se tem uma vista fantástica e panorâmica sobre Santa Cruz.
Depois fomos fazer uma rápida visita pelo exterior das outras duas ermidas, a Ermida de São Salvador e a Ermida de São João.
Havia uma outra coisa que eu queria muito ver neste monte: a Praça de Toiros da Graciosa, construída dentro da antiga cratera de um vulcão.
Impressionante como aquela construção encaixa que nem uma luva naquele anfiteatro natural. Independentemente de se gostar de touradas ou não, há que reconhecer a originalidade. Fomos por isso explorar a praça, que nos pareceu triste e abandonada, mas carregada de história(s).
Ponta da Restinga
Depois de terminarmos por ali as nossas explorações, descemos o monte e continuámos o nosso passeio pela ilha, tendo como destino seguinte a Ponta da Restinga, uma zona elevada, junto ao mar, onde está o Farol da Ponta do Carapacho.
A vista que daqui se tem é muito bonita, para o ilhéu de Baixo, mas estava uma ventania tão forte, que não aguentámos muito tempo.
Se calhar tínhamo-nos aguentado melhor se tivéssemos podido entrar para a vigia de baleias que ali existe – uma pequena construção que parece uma fusão entre farol e bunker.
Carapacho
Já mais quentes dentro do carro, descemos até ao Carapacho para passear junto ao mar e conhecer as piscinas naturais do Carapacho – que estavam vazias nesta altura do ano, mas que parecem ter ótimas condições para passar uns dias de Verão, inclusivamente para os campistas que ficam no parque de campismo que existe lá perto.
Chegou a hora de almoço e queríamos comer num restaurante ali próximo que nos tinham recomendado. Mas como era Domingo e não tínhamos reservado mesa, não conseguimos.
Depois de três tentativas falhadas – um restaurante cheio e dois fechados – e uma volta à ilha, lá conseguimos almoçar no restaurante Chapa Real, em Santa Cruz. Para acalmar o meu mau humor que se estava a instalar ajudou a carne da ilha saborosa, mal passada, e a simpatia do proprietário do restaurante.
Caldeirinha
De barriguinha cheia, chegou a altura de subir a mais um antigo vulcão, desta vez para dar a volta à Caldeirinha – não admira que tenha este diminutivo carinhoso, já que é uma caldeira bem mais pequena que a Caldeira.
Subimos e circundámos o pico da Caldeirinha, num passeio curto e com boas vistas, que ajudou à digestão e à disposição.
Porto Afonso
Rumámos então a Porto Afonso. Descemos pela estrada principal, ladeada de pastos, mas ao vermos que o estradão que seguia até Porto Afonso era em terra batida e parecia ter grandes buracos, decidimos deixar o carro junto à estrada e seguir a pé. Foi uma caminhada talvez de 20 minutos – mas vimos que outras pessoas levaram o carro mesmo até ao fim, onde se encontra este porto de pesca.
A verdade é que ficámos maravilhados quando, no fim do estradão, nos deparámos com uma paisagem de formas imponentes, irregulares e de cor vermelha.
Apercebemo-nos que nas arribas de terra vermelha da Baía de Porto Afonso há vários buracos escavados. Fomos espreitar, curiosos, e apercebemo-nos que alguns deles ainda estão “habitados” por barcos de pesca, enquanto outros se encontravam vazios ou meio abatidos. Pareciam mesmo abrigos de outros tempos.
Perto destas arribas, encontrámos um pequeno porto com as condições necessárias para pôr e tirar barcos de pesca do mar. E, tranquilos, dois pescadores aguardavam pacientemente que um peixe mordesse o isco das suas canas.
Piscinas naturais dos Poceirões
Depois de regressarmos ao carro, seguimos caminho até às piscinas naturais dos Poceirões.
Rodeadas por um cenário natural poderoso, feito de mar e rocha vulcânica, encontrámos aqui um dos locais mais incríveis da Graciosa, a não perder. O Ricardo, que não deixa passar a oportunidade de dar um mergulho em sítios especiais, tomou um belo banho numa das piscinas, calma e só para ele.
Ponta da Barca
Apesar de o céu neste dia enevoado não prometer nenhum espetáculo, fomos tentar ver o pôr-do-sol ao sítio mais recomendado: junto ao Farol da Ponta da Barca.
E foi junto a este farol que vimos a única baleia desta viagem aos Açores. Na verdade, é uma rocha vulcânica, o Ilhéu da Baleia, com uma forma que parece mesmo de uma baleia. Ficámos encantados.
Fomos então posicionar-nos à esquerda do farol, para ter a melhor vista para o sol, já baixo no horizonte. Apesar das nuvens, ainda vimos um tímido, mas belo, pôr-do-sol.
Praia do Barro Vermelho
Antes de regressarmos a casa, e já no lusco-fusco, ainda quisemos ir conhecer um último local: a Praia do Barro Vermelho.
É uma praia curiosa que tem, literalmente, areia vermelha. É muito engraçada, vale a pena conhecer. Para nós, foi perfeito para terminar a nossa visita à Graciosa.
Na manhã seguinte, entregámos o carro alugado no aeródromo e apanhámos o nosso primeiro voo do dia, para a Terceira, felizes pela maravilhosa surpresa que a Graciosa se revelou e com a mala cheia de queijo e queijadas.
Para uma próxima viagem à Graciosa ficou a subida à Serra Branca e uma visita ao Museu da Graciosa.
Comer na ilha Graciosa
Veja aqui o que provar na Graciosa e nas outras ilhas dos Açores.
Partilhamos também alguns dos restaurantes mais recomendados:
- Estrela do Mar, na Baía da Folga (Molho à Pescador e lapas grelhadas)
- Dolphin, no Carapacho
- Café Grafil, em Santa Cruz da Graciosa (bife regional)
- Snack-bar Jale, em Santa Cruz da Graciosa (pão de alho e ameijoas)
- Café Leão, Casa de Pasto, em Guadalupe (bife regional)
- Costa do Sol, em Santa Cruz da Graciosa
Alojamento na ilha Graciosa
Deixamos algumas boas sugestões de alojamentos onde ficar na Graciosa:
Pesquise aqui outros alojamentos na ilha GraciosaEsperamos que tenha oportunidade de visitar a Graciosa e que fique tão encantado como nós com a Ilha Branca.
Se gostou deste roteiro, deixe-nos um comentário mais abaixo, vamos gostar de saber!
Poderá ver ainda mais fotos desta viagem nos Destaques sobre a ilha Terceira no Instagram do Explorandar.
Veja também estes artigos:
- 4 passos para planear uma viagem aos Açores
- Gastronomia nos Açores: lista completa do que comer em cada ilha
- 6 dias na ilha Terceira: o que ver e visitar
- 3 roteiros para conhecer o melhor da Ilha de S. Miguel
Kit do Viajante
Selecionámos um conjunto de serviços que usamos e que poderão ajudar a organizar a sua viagem. Ao adquirir serviços através das ligações abaixo, não terá qualquer custo adicional e estará a ajudar o Explorandar a crescer. O nosso muito obrigado!
- Encontre os melhores preços de alojamento no Booking.
- A Iati Seguros tem opções de seguro para vários tipos de viagem e ao reservar através deste link tem 5% de desconto.
- Para alugar carro, comparamos preços no Rentalcars e no Auto Europe.
- Compre bilhetes para museus, monumentos, tours e transfers no GetYourGuide.
Esta página pode conter links de afiliados.
Obrigado pelas dicas! Quero muito visitar a Graciosa e gostava de fazer de barco desde a Terceira. Vou guardar!
Vai adorar! Votos de uma ótima viagem